Numa tarde cinzenta de uma terça-feira com cara de triste e desolada, um grande conglomerado de nuvens começou a se juntar, com o objetivo de formar uma grande tempestade.
Nuvens grandes, médias, pequenas outras sem medidas exatas e de formas retorcidas chegavam de todos os lados, algumas rolavam e deslizavam sobre o céu ainda azul daquela manhã, se unindo a uma grande massa cinzenta que pairava pelo ar.
Mas havia uma pequenina nuvem que não tinha o mesmo entusiasmo das outras e negava-se a se juntar com a grande massa acinzentada, ela era fofinha e parecia ser muito macia, ali parada então ela ficou. Desconfiada, insatisfeita, reflexiva e depois de um suspiro mal soltado ela disse:
_Por que tenho que me juntar a você? _E me transformar em uma horrorosa tempestade?
_Por que esse é o fluxo da natureza. _Mas por que se nega a juntar-se a min, quando nenhuma outra diz não?
A pequenina nuvem ficou muda e não soube como responder aquela pergunta. Percebendo o conflito crescente nos silenciosos pensamentos da pequena nuvem, a grande nuvem cinza resolveu acabar com aquela conversa de uma vez, e por um fim naquela situação.
_Nossa missão, é preservara vida da terra, por isso passamos por alguns estágios como o líquido, gasoso e o sólido, somos fruto de um grande círculo vicioso onde nossas ações preservam a vida e sustentabilizam a terra.
_Mas mal tocamos na terra, e ficamos a maior parte do tempo flutuando no ar, por que temos que preservá-la? _Isso deveria ser tarefa deles, que acordam, comem e vivem dela...
_Hum!_Você faz perguntas demais, um dia você acabar virando um gelo seco, e vai ficar vagando dentro de um frízer escuro e fedido.
_Não vou não!!!_Por quê eu nunca mais vou me juntar novamente a outra nuvem, e jamais irei virar chuva novamente!!!_Sendo assim serei como um ser único e livre, de agora em diante farei minhas próprias escolhas e tomarei minhas próprias decisões.
_Ora!_Ora!_Seu pequeno pedaço de nuvem inútil, vamos parar logo com essa brincadeira e venha se juntar com a gente de uma vez por todas. _Antes que eu acabe me zangando e me transformando em uma terrível tempestade antes do tempo.
Enquanto a grande massa cinzenta esbravejava, trovões roncavam sob aquele céu acinzentado e relâmpagos clareavam a face daquela gigantesca massa de nuvens, fazendo-a ficar cada vez maior.
Floques era assim chamada, à pequenina nuvem que refletia teimosia e curiosidade. E lentamente ela foi se afastando, da grande e furiosa tempestade que começava a se formar em sua frente. Mas antes que o grande conglomerado de nuvens perde-se o controle, soltou suas últimas palavras. E como um grande estrondo disse:
_Essa é a sua última chance, se quiser se juntar a nós tem que ser agora, eu já estou quase perdendo o controle e em poucos minutos vou me transformar em uma terrível tempestade. _A escolha é sua ou se junta a nós ou ficar vagando por aí sozinha, perdida até que vire gotas de chuva e acabe como uma raspadinha de gelo de algum sabor ruim.
Mas a argumentação da grande massa cinzenta não convenceu a pequena nuvem branca, que balançou seu corpo macio e flácido de um lado para o outro, como sinal de quem não se importava e partiu sem ao menos dar uma olhadinha para trás. Deixando o círculo vicioso que havia domado sua vida, até aquele implícito momento de liberdade...
Pela primeira vez em toda sua inexistência, Floques experimentou o maravilhoso sabor da liberdade e provou o toque de algumas de suas amigas que haviam se tornado gotas de chuva, elas tocavam em sua macia pele branca e molhavam suas flácidas camadas macias.
Vagando livremente por entre aquela branda tempestade, que acabara de começar, Floques ficava cada vez mais admirada, o vento forte da tempestade batia em sua pele e a levava cada vez mais para longe, fazendo-a chegar em lugares que ela nunca havia visto antes.
Aos poucos à tempestade se acalmou, e o pequeno pedaço de nuvem branca que explorava os céus, agora arregalava seus olhos apertados, tentando enxergar o lindo campo de flores que estava sob sua flácida pele úmida e gelada.
_Nossa como são bonitas!_Nunca imaginei, que as flores tinham tantas formas e cores!_Agora que estou mais próxima das sociedades, estou começando a entender, por que aquela gigantesca nuvem cinza, falava sobre preservar a vida na terra.
Enquanto a macia nuvem branca contemplava as flores foi surpreendida por um atrevido beija-flor, que chegava de mansinho e tomava com muito cuidado o néctar das flores, alguns até diriam que ele parecia estar roubando o coração de uma donzela, por conta de sua extrema delicadeza.
_Isso é realmente incrível!_Será que isso... _ É o que chamam de natureza?
De repente um vento muito, mas muito forte, acertou em cheio Floques e a arrastou novamente, mas dessa vez para um lugar refleto de vida e harmonia, onde a energia da inexistência fluía pelos campos compulsivamente.
O fluxo da vida gerado por toda aquela correria, encantou os olhos daquela fofa nuvenzinha, que surpreendida com todas aquelas cores, e formas, distraída disse:
_Tantas formas, e tantas cores, de onde será que vem toda essa euforia?_E para onde será que vai, toda essa energia?
E Floques sendo então tomado por essas indagações, parou, sentiu e começou a refletir a problemática de sua própria energia, chamada vida.
_Como posso eu querer saber de onde eles vêm, ou para onde vão?_Se eu nem ao menos me lembro, qual foi a primeira vez que eu estive aqui, de onde eu vim? _Ou para onde eu vou?
Aquele pequeno pensamento tomou fôlego e se tornou grande, transformando em um grande turbilhão as águas calmas de sua emoção.
Foi como apertar um dispositivo de alerta, a mente de Floques e os seus pensamentos ficarão tão acelerados, que inúmeras perguntas e dúvidas, começaram a percorrer em sua mente e perturbar sua razão.
Perdida e confusa, ela tentava apertar o freio e desacelerar seus pensamentos que trituravam seus neurônios, como um velho triturador enferrujado. Enquanto buscava entender o que ocorria em sua mente, um vento brando e fraco soprou em sua pele macia, e a arrastou por mais alguns quilômetros dos campos verdes, decorados com flores que ela tanto admirara.
Seus olhos de repente ficaram vagos, e perdidos no nada. Já não se encantavam mais com as pequenas e finas gotas de chuva, que faziam seu belíssimo show ao ar livre. Um vazio obscuro e latente já havia dominado sua visão, foi quando de repente seus olhos a traíram. Floques foi apanhada de surpresa por uma imagem que ajudou a acalmar a grande tempestade que acontecia em sua mente.
Uma pequena formiga passava por entre um gramado esverdeado e bem parado, ela carregava uma enorme folha, que parecia ser três vezes maior que seu próprio corpo. Enquanto as gotas de chuva caíam e espalhavam-se em seu caminho criando pequenas poças de água, que afundavam seus delicados pés, a pequena formiga seguia em frente enfrentando todos os obstáculos com garra e determinação.
_De onde vem, tanta garra? _Tanta determinação? – Por que continuar? _Aonde ela pretende chegar? _Se fosse eu já teria desistido, tanto esforço equivale a tanta disposição...
Floques impressionou-se tanto com a persistência e disposição daquela pequena criatura, que mal percebeu que a tempestade aos poucos foi cessando e o tempo havia se acalmado outra vez.
Através da retina de seus grandes olhos brancos, dava-se para perceber que o grande vendaval que estava devastando sua mente também começava a se acalmar, e foi quando enormes casas e prédios começaram a surgir, foi que Floques percebeu que estava sobrevoando uma cidade grande.
Mas rapidamente ela percebeu que algo de errado estava acontecendo, o sol havia aparecido ainda timidamente no céu a tempestade finalmente se dissipara, então a pequena nuvem começou a sentir que seu corpo a cada instante que passava, ficava mais pesado.
_Oh não! _Por que estou caindo? _Por que a cada novo conhecimento, a cada nova imagem eu venho me sentindo assim, estranha e pesada como se as nuvens não fossem feitas para nada, somente para molhar e preservar a terra...
Agora a macia e pensante nuvem, caia continuamente do céu, como se estivesse sendo empurrada para baixo, indignada e revoltada ela soltava palavras e fazia gestos recheados de murmurações.
_Cada parte do meu corpo esta se desfazendo, e se transformando em gotas de chuva!!!_ Talvez eu não possa fugir do círculo vicioso criado pela própria natureza, de hora estar aqui e outra hora partir. _Mas sei que logo em nuvem me transformarei e poderei nem que seja por alguns instantes, provar novamente desse saboroso fruto, chamado vida.
O corpo de Floques, já havia perdido quase toda sua estrutura e a cada pensamento que tinha, seu corpo diminuía, e quando ela já não tinha mais massa suficiente para formar pensamentos, resolveu apenas contemplar aquele mundo que ela tanto aprendeu a admirar.
Seus olhos apenas viam um pai segurar seu pequeno filho no colo, enquanto à pequena criança apontava seu dedo indicador, para o alto. E perguntava-lhe continuamente alguma coisa, que Floques conseguiu ouvir quando chegou bem perto deles.
O pequeno menino tocou com seu dedinho na pequena nuvem que caíra do céu, e voltou a perguntar a seu pai:
_Papai, nuvem? _De algodão?
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